Paulo Mendo (3/10/1932 – 3/4/2025)
O amigo.
Culto, tolerante, disponível, conversador.
Dotado de empatia imediata, envolvia as pessoas no seu entorno, fazendo-as sentir-se livres e confiantes, com a sensação de que uma boa amizade tinha começado.
A sua cultura tinha um espectro muito amplo, desde a literatura, a arte, os clássicos, a história e, obviamente, a medicina. Daí, as referências exemplificativas ou demonstrativas que fundamentavam os seus argumentos, estimulavam o prazer de o ouvir, e aprendia-se.
Aprendia-se a virtude da tolerância, mormente na fase de intolerância social máxima, no pós-25 de Abril imediato, em que grupos se organizavam com certezas absolutas e adjetivações repulsivas para os seus simples adversários. Com naturalidade, ele mostrava que ser adversário não era ser inimigo e que a tolerância gerava bem-estar. E que a diversidade era um bem da humanidade. Não admira que tenha contrariado todas as tentativas de saneamento no Hospital de Santo António.
Abraçou a tarefa de criar a especialidade de neurorradiologia com a simples ideia lógica de que era uma necessidade e, por isso, correspondeu à sugestão do nosso mestre Professor Corino de Andrade. Com simplicidade e determinação, começou do zero e arrancou. Foi preciso aprofundar com rigor os necessários conhecimentos de física, meter as mãos à obra em todos os detalhes, tais como, a título de simples exemplo, fazer os banhos de revelação de películas radiográficas, formar técnicos, e tudo o resto, não esquecendo as famosas reuniões rádio-clínicas. Como um íman, atraiu médicos de todo o país para estagiar no Serviço de Neurorradiologia. Tudo resultou num departamento prestigiado e no desenvolvimento de departamentos congéneres dispersos de norte a sul, igualmente prestigiados.
O seu valor transbordava largamente as fronteiras do Departamento de Doenças Neurológicas, tornando inevitável a sua participação no Hospital de Santo António como diretor, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) como presidente do Conselho de Administração e no governo da nação como ministro da saúde.
Teorizou e escreveu livros sobre a saúde, que são orientações fundamentais para o desenvolvimento da saúde em Portugal. Assim, teve influência política preponderante na dignificação da Saúde Pública e na criação da especialidade de Clínica Geral, hoje medicina Geral e Familiar.
Era um homem sábio e amigo. Foi um privilégio tê-lo conhecido e com ele ter percorrido a vida profissional que o seu saber e engenho proporcionou. Estou seguro que este sentimento se estende a todos nós que o acompanhámos ou os que lhe sucederam no Hospital de Santo António, e a tantos outros pelo país fora.
José de Almeida Pinto
(em representação de todos os profissionais, antigos e atuais, do Serviço de Neurorradiologia Paulo Mendo – ULS Santo António)