Fernando Costa Reis

A dinamização da prática da Neurorradiologia em meados dos anos 70 nos então Hospitais Civis de Lisboa (HCL), resultou da conjugação de esforços e interesses comuns de neurologistas e neurocirurgiões apoiados na consciencialização par todos sentida da necessidade de melhoria da qualidade e rigor de diagnóstico das situações decorrentes da pratica clínica diária.

À época, as técnicas de diagnóstico neurorradiológico (angiografia cerebral por punção arterial direta, encefalografia gasosa por punção lombar, ventriculografia e mielografia com contrastes lipossolúveis) eram efetuadas com os meios limitados disponíveis no Pavilhão de Traumatizados Cranioencefálicos do Hospital de S. José pelos neurocirurgiões de um modo não sistemático e como complemento orientador da atividade cirúrgica.

Mimer III

A Neurorradiologia como prática autónoma e profissionalizada nos HCL inicia-se com a instalação da Secção de Neurorradiologia do Serviço de Neurocirurgia do Hospital dos Capuchos equipada com um craniógrafo Mimer Ill, equipamento polivalente de diagnóstico neurorradiológico, mesa radiológica basculante e câmara escura com revelação automática de apoio, tendo-se iniciado e desenvolvido a partir desta data as técnicas de angiografia cerebral seletiva por cateterismo femural, a encefalografia gasosa fracionada e a mielografia/radiculosacografia com contrastes lipo e hidrossolúveis.

Praticada de forma exclusiva em vários centros do País entretanto constituídos por profissionais de diferentes formações básicas (neurologistas, neurocirurgiões e radiologistas) e tendo como referência o centro pioneiro e dinamizador do Laboratório de Neurorradiologia do Hospital de Santo António do Porto, criado e desenvolvido a partir de meados dos anos 60, a Neurorradiologia foi-se impondo como especialidade autónoma e independente, com metodologia própria e estreita ligação a clínica, levando a criação da especialidade hospitalar de Neurorradiologia em 1981 (pelo Dr. Paulo Mendo à altura Secretário de Estado da Saúde) e definidos os parâmetros de formação curricular, carreira e critérios de avaliação.

Por outro Iado, a introdução e generalização de novos métodos de diagnóstico por imagem no inicio dos anos 80, em particular da tomografia axial computorizada, que veio revolucionar o diagnóstico imagiológico tornando obsoletas as técnicas convencionais, exceção feita à angiografia que se manteve em constante desenvolvimento na vertente diagnóstica e particularmente terapêutica, respondendo às novas abordagens terapêuticas da patologia vascular oclusiva e hemorrágica, e mais tarde da ressonância magnética alargando as potencialidades de diagnóstico morfológico e funcional e o desenvolvimento progressivo da Neurorradiologia de intervenção, vieram conferir uma autoridade e grande dinamismo profissional e científico que levou ao ulterior reconhecimento da Neurorradiologia como especialidade pela Ordem dos Médicos.

Com o desenvolvimento e afirmação científica da Neurorradiologia nas vertentes de diagnóstico e de intervenção como hoje a conhecemos, e o empenhamento de todos os seus profissionais nas últimas décadas percorreu-se um já longo e gratificante caminho desde a motivação inspiradora pioneira do Hospital de Santo António do Porto na pessoa do Dr. Paulo Mendo a quem a Neurorradiologia Portuguesa presta homenagem e merecido reconhecimento.

Fernando Costa Reis

Médico Neurorradiologista I Fundador do Núcleo Português de Neurorradiologia